Razões que a razão desconhece, levaram-me a escolher este título para uma nova crónica. Foi há cerca de uma ano que publiquei aqui o último post. Foi este título, mas poderia ter sido Nas Franjas do Poder ou Cabeça Fria Entre as Orelhas ou Por Pirraça. Mas não, foi Enviado à Cobrança?. Os leitores deverão … Continuar a ler
Sentada à porta do prédio, nos degraus que conduziam à sua casa, Maria das Dores consolava o seu filho, Mário Ribeiro Gonçalves, que, deitado no seu colo, gemia com dores. Mário sofria de dispneia paroxística nocturna. Maria das Dores sofria pelas dores do seu filho. O filho sofria pelas dores que a sua dor causava … Continuar a ler
René Lagardère era um homem desconfiado. Olhava para tudo com imenso cuidado. Cheirava, apalpava, repetia gestos. Uma e outra vez. Quando, finalmente, após um derradeiro exame minucioso, se certificava da verdadeira natureza do que observava, convencido que ficava de que esta natureza não era morta, Lagardère estremecia dos pés à cabeça, rodava sobre os calcanhares, … Continuar a ler
Deixem-me falar-vos de Conchita Bermudez. Cintura fina, voz grossa, vistosa plumagem colorida, Conchita olhava da janela, fascinada, a chuva que caia. Resolveu sair. Conchita tinha então comprado um impermeável e umas botas de cano alto, para se proteger e assim desfrutar plenamente do objecto do seu fascínio. Uma ave rara, Conchita. [Entra Larrabee]. Um episódio lamentável … Continuar a ler
Patrick Foreskin forçava a alavanca. Sabia que, fazendo-o, a porta se entreabria e ia, ia. (Por momentos, Patrick viu uma nesga e vislumbrou a possibilidade.)Subitamente, no meio de um estranho emaranhado, bastante embrulhado, de fios, de tubos e diversos mecanismos, na porta esbarrou, mas forçou, forçou.(Patrick deambulou por becos esconsos do saber e perguntou, perguntou.)Patrick … Continuar a ler
Jardim Zoológico de Sidney, 8.30h da manhã. Arnold Schoenberg tenta convencer o director da instituição, o célebre ditador Trujillo, a comprar-lhe o seu canguru anão. Trujillo hesita. Schoenberg procura, em vão, convencê-lo de que o canguru possui qualidades excepcionais e que será uma valiosíssima aquisição. Passa Vasco Santana, de braço dado com as duas tias. … Continuar a ler
O vapor saiu lentamente do porto de Mombassa. Guardámos a imagem daquela população, concentrada em massa no cais, a acenar-nos sem cessar, até deixarmos, finalmente, de ver terra. O tempo estava bom, o ânimo da guarnição era bastante elevado, a energia a bordo era electrizante. Naquelas primeiras horas, a tripulação estava muito contente por termos … Continuar a ler
À chegada a Mombassa, a nossa coluna foi entusiasticamente saudada pela população local. As zebras — que tinham perdido as riscas, recorde-se, ao atravessar as cascatas e cataratas a norte — foram o alvo principal da atenção e da curiosidade dos locais, que nos acompanharam com os seus gritos de admiração e alguns rituais cujo … Continuar a ler
Depois daquela encharcadela provocada por todas as cascatas e recascatas que atravessámos, na visita ao Corno de África, entrámos em território bantu. E… perdemo-nos. Andámos, andámos, mas parecia que não conseguíamos sair do mesmo lugar. Parecia uma partida de Monopólio encravada. Pior: eu cruzei-me várias vezes comigo próprio e membros da guarnição asseguraram-me, mais tarde, … Continuar a ler
Saímos do Congo, manhã cedo, em direcção a nordeste. Fomos subindo debaixo de um calor abrasador, felizmente que as nossas novas montadas nos facilitavam a caminhada. As zebras, apesar da ainda estarmos apenas no início da jornada, suavam já tanto que a tinta das riscas começou a escorrer. As nossas fardas já estavam a ficar … Continuar a ler
Há um problema que aqueles que acompanham estas crónicas desde o início, têm de compreender: desde que deixámos o navio ancorado no porto de Mombassa e nos metemos por estes caminhos do continente negro, todo o nosso percurso de milhares e milhares de quilómetros (p’la minha saúde que não estou a exagerar!) foi feito a … Continuar a ler
Aos primeiros raios de Sol, abandonámos território Iorubá em direcção a sul. Os membros da Ópera de Pequim, que tinham apanhado uma enorme cardina no dia anterior, deixaram-se dormir. Isso fez-nos atrasar a partida. Receávamos que isso nos pudesse obrigar a parar durante as horas de maior canícula. Os nosso receios confirmaram-se. Com mais ou … Continuar a ler
Desembaraçados da rede que nos caiu em cima, desfeito o equívoco que resultou de termos ultrapassado um placa que indicava “Propriedade privada, multas a quem a invadir” (quem o poderia adivinhar?), finalmente bem comidos e melhor bebidos, deu-nos a moleza. A guarnição espalhou-se por pelo largo da aldeia e foi-se sentando, indolentemente, onde calhava. Oficialidade … Continuar a ler
Manhã cedo iniciámos a descida do Quilimanjaro. Nanook acordou-nos aos primeiros raios de Sol, serviu-nos um magnífico pequeno almoço — chá, café ou sumo, à escolha, torradas em pão de sementes, geleia de baleia e compota de foca, tudo muito fresco — calçou-nos os patins e aí fomos nós, montanha abaixo. Certamente por causa da … Continuar a ler
A coluna avançava após a nossa saída de Malindi. Creio que o sentimento geral era o de satisfação pelo enorme prazer que nos tinha sido proporcionado por aquele simpático casal, Harry Dacre e a sua mulher Daisy Bell. Continuámos a deambular durante algum tempo, penetrando profundamente no interior do continente. Avistámos uma alta montanha, que … Continuar a ler
Fugidos ao cartel colombiano que nos tinha atacado a tiros de canhoneira, dirigimo-nos a Malindi. Não avistámos vivalma nas ruas. Àquela hora deveriam estar a fazer a sesta. O primeiro tenente Procópio Martins da Ponte aventou a hipótese de estarem todos a ver a final do Mundial, que deveria estar a decorrer. Continuámos a percorrer … Continuar a ler
Chegados a Mombassa, lançámos o bote ao mar e desembarcámos. A tripulação precipitou-se à procura da pedra pomes e a oficialidade seguiu para a cidade, onde participou numa renhida partida de golf com alguns indígenas. Perdemos e fomos obrigados a pagar-lhes uma rodada de brandy no club. Os indígenas e respectivas famílias pareciam bastante animados … Continuar a ler
Escapámos da conspiração montada por Haider Ali e da perseguição iniciada pelas forças do samorim. Pretendíamos rumar a Mombassa. Não tínhamos conseguido repor os stocks de pedra pomes e a tripulação começava a manifestar o seu descontentamento e apreensão. Tínhamos obtido a informação de que a alternativa seria Mombassa, porque aí a preciosa rocha estaria … Continuar a ler
Tínhamos atingido a costa do Malabar, não sem enormes dificuldades. O tenente Duarte Carrazeda de Ansiães, o nosso perito em explosivos e armadilhas, tinha ficado bastante ferido enquanto manuseava uma carga de dinamite. A carga explodiu, Carrazeda de Ansiães perdeu a cabeça e o dr. Harrison Birtwhistle, um médico inglês que acompanhava a nossa expedição, … Continuar a ler
Tínhamos embarcado em Reiquiavique, numa frágil canoa. Mas a meio da viagem mudámos para o vapor Cruzeta dos Mares, que quase por milagre nos apareceu, ali no meio do oceano, vindo sabe Deus de onde. Ao leme, o nosso hábil piloto Flávio Gorgonzola, um veneziano, sobrevivente do holocausto. Enquanto passávamos o estreito de Malaca, o … Continuar a ler
Um novo membro para a redacção do Suplemento Cultural. O comandante Serpa Ortigão é um conhecido explorador do século XIX, que contribui com o seu prestígio para o engrandecimento do nosso Suplemento. Ao novo membro desejamos as maiores felicidades e votos de rápidas melhoras.
Beethoven ataca um paso doble, enquanto beberica uma taça de café. Ana Magdalena Bach, presente por mero acaso no Cafe Frauenhuber, delicia-se com um gelado de baunilha e morango, do Santini. Nem um nem outro se dão conta que, entretanto, na cozinha, o chefe Gutenbrunner prepara uns gnocchi, prato típico vienense, muito apreciado no Frauenhuber, como é … Continuar a ler
Uma nota rápida para dar as boas vindas ao novo membro do Suplemento Cultural, o distinto académico e ideólogo marxista Desidério Chichorro. O professor Chichorro é um investigador de longa data da coisa histórica, da coisa literária e da coisa. É também um colecionador compulsivo, que nos promete dar aqui nota dos exemplares mais preciosos … Continuar a ler
“Kumkamandro!” gritava Pretório, enquanto tentava engomar uma alface frisada. Entretanto, a malta em Pompeia metia o Rossio no Mar Egeu, perante o olhar atónito da Guarda Pretoriana que aguardava Pretório no seu próprio velório. Pretório não veio, porque se lhe meteu a conclusão de uma qualquer tarefa urgente de premeio. “São factos!’ Dizia-se à boca … Continuar a ler
Knot pranknesk. Somertrobat frankasteunava brobant. Quo cri mokotu? Brubunesk fratagor merenkchau. Brutaford comintern gramischiu. Grvne poiares? Krut, graven poiares. Maduro! Brantka quo cri quo cri cri. Somercogut pratanesk? Fragator mokotu, soplefizink commertsunami. Proktoris vagamesto proboscium. Gravetranar, margot Fonteyn im Bratislava. Sokremantiku Bratislava, por veria soro probostu… Y Markantoine Charpentier? Knut, Marcantoine Charpentier virodisku, comprenne fratigmassunti, fiko … Continuar a ler
Um planeta distante num futuro longínquo, eis Dune, o novo filme de Brandon Culprit, em estreia brevemente em todos os cinemas. Uma guerra de famílias pelo controlo do planeta, o único em toda a galáxia a produzir o manjar, a droga que dá pontos, viagens e descontos em bens essenciais. Vermes gigantes atravessam Dune de … Continuar a ler
Importa, antes de mais, recordar que este é o quinto episódio da série Tricor. Surgida em 1962 pela mão do realizador Gustaf Avantraz, a série debruça-se sobre as alterações do campo gravitacional do Universo e as suas consequências nos avanços e recuos das civilizações intergaláticas. Liennamencor (Gabriel Anahtema) é o tirano que domina dois terços … Continuar a ler
A Punção é um filme que retrata aquilo que retrata o que retrata o que está a ser retratado. Em alternativa, podia-se chamar, talvez, o reretrato. Mas não. Chama-se mesmo A Punção. Temos nota de que muitos espectadores do filme saíram da sala, para nunca mais voltar. Alguns a meio do filme. Muitos, logo no … Continuar a ler
Vamos a factos! Eis o que consegui apurar. Enquanto Olivia Newton John vinha pela Calçada do Combro a cantar o “Quando calienta el sol,” a pequena Judy Garland, montada às cavalitas do Wizard of Oz escolhia os parceiros para jogar à apanhada… “An-do-li-tá. Cara de amênduá,” Entretanto, ouviu-se Malcom X dizer “Pois, mas será arte?” … Continuar a ler
O 4o Elemento é um filme sobre os Heterónimos Anónimos, o grupo de pirómanos que nos anos 50 do passado século ameaçou “pegar fogo a tudo o que contivesse material combustível,” segundo um porta voz de então, a especialista em dança da prisão de ventre Vera Munkaksi. Na altura o grupo chegou a ter centenas … Continuar a ler
Imagine uma corrida de galgos. Ou uma partida de snooker. Talvez um jogo de futsal. Ou uma descida em canoa de um rápido, com águas em furioso turbilhão Uma prova de vinhos? Uma sessão de degustação de cozinha exótica. O filme Crème Brûlée não tem, rigorosamente, o que quer que seja a ver com isto. O que … Continuar a ler
O ano é 2387. Algures, numa galáxia longínqua, um grupo de marinautas prepara-se para embarcar no intergaláxias. Dirigem-se a uma galáxia ainda mais longínqu. A nave é um novo modelo híbrido, movido a velas de radiação primária e motores de anti-matéria, capaz de fazer viagens verdadeiramente longínquas. Levantadas as velas, os ventos da radiação primária … Continuar a ler
Numa acalorada (alguns chegaram a classificá-la de à carolada) troca de mails entre Charles Darwin e Jakob Johann von Uexküll, este último afirmava que as abelhas adquiriram a capacidade de voar porque aquela coisa do mel era o resultado de uma vida fútil, sem nada para fazer, uma rotina insuportável, capaz de levar as abelhas à … Continuar a ler
Vamos à Praia passa-se em Biarritz 1943. Mas podia passar-se em Saint-Tropez em 1627. Ou em Nice em 1812. Ou em Cannes, em 1428. Mas não, de facto, é em Biarritz e é em 1943. No verão. Vamos à Praia é intemporal. É intencional. Françoise vai à praia. Caminha, toalhinha ao ombro, biquini provocador, bronzeador, … Continuar a ler
Parménides tinha o passo curto e, por isso, não conseguia acompanhar devidamente os acontecimentos. Este é o ponto de partida para esta autêntica obra prima de Tibúrcio Promenade (não chega a obra prima, é só autêntica) realizada pelo próprio.Eu sei, eu sei que não devia dizer isto, mas colaborei no guião. Que me perdoem os … Continuar a ler
O repto tinha sido lançado algum tempo antes por Rasputine. “Mickey,” disse ele, “vais raptar a rata Minnie.” Mickey desconfiava do sucesso e do que risco que representava tal operação. Num passado não muito longínquo, recordava-se do reprovável desfecho de uma operação idêntica com Remy, o rato do Ratatouille. Nessa altura, Remy puxou do revólver … Continuar a ler
Os Cahiers du Cinéma chamaram-lhe um figo. A Variety chamou os bombeiros. O Zé da Segada chamou puta à Tininha de Trajouce. Foi julgado, condenado e preso por isso. Aguarda presentemente julgamento em liberdade, depois de ter pago uma caução por precaução. Nenhum destes factos está, aparentemente, relacionado. Mas o que o Zé da Segada … Continuar a ler
Vai estrear em breve o filme “Acapulco, os dias do guacamole,” de Benvindo Chichorro, o realizador de “Entregue às Urtigas,” prémio Galaró 2019. Neste seu novo trabalho, Chichorro chamou uma nova estrela em ascensão, o actor Ambrósio Galantine, que contracena com a consagrada Genevieve Parkinson. O SC foi falar com Ambrósio Galantine sobre este seu … Continuar a ler